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Na última semana, ocorreram mais dois assassinatos envolvendo violência contra mulheres na região central do Rio Grande do Sul. No interior de Vila Nova do Sul, inconformado com a separação, homem invadiu a propriedade rural da ex-companheira, matou o ex-cunhado e feriu gravemente o ex-sogro. Em Júlio de Castilhos, após ter sido sequestrada pelo ex-companheiro, Liana não conseguiu escapar e foi morta a tiros.
Casos que retratam o repugnante ditado: "não é minha, não será de mais ninguém". Fatos que evidenciam o forte laço que une o machismo à violência. Desamarrá-los, na tentativa de tecer novos caminhos, que contenham diálogo e educação, talvez proporcionem outros desfechos. O problema é: como conversar com homens que além de se considerarem donos do saber/poder, vivem em uma sociedade que naturaliza hostilidades?
Repensar essa cultura inclui, por exemplo, colocar os meninos desde cedo a participarem, cotidianamente, das atividades domésticas. Envolve uma desconstrução, diária, da ideia de que homens ocupam o lugar de chefia nas suas redes de relações enquanto as mulheres assistem, passivas.
Em pleno 2020, quando estamos quase acreditando que algumas coisas já mudaram, essas ocorrências nos relembram que ainda há um longo caminho a percorrer. Portanto, é fundamental que, desde a infância, meninos e meninas sejam estimulados a refletirem criticamente sobre os super-heróis e as princesas indefesas. Não temos espaço para cinderelas que despertam com beijos de príncipes que deveriam ter permanecido sapos. Novas histórias podem ser construídas nas quais, sem dificuldade alguma, meninos embalem bonecos e meninas empurrem carrinhos, percebendo que no futuro terão mais chance de serem pais carinhosos e mulheres que acessem o mercado de trabalho com mais igualdade de condições. Interessante ampliarmos os espaços de discussão sobre o assunto. Incentivar rodas de conversa com homens para que reflitam sobre comportamentos opressores, ultrapassados.
Pensando nisso, acadêmicos dos cursos de Enfermagem e Medicina da UFN estão desenvolvendo produtos e ações que objetivam dar visibilidade ao tema na tentativa de criar estratégias que favoreçam a prevenção da violência de gênero. Entre eles estão a confecção de cartazes que serão distribuídos em ônibus, salões de beleza, farmácias e padarias informando sobre locais onde poderão denunciar casos de violência, adesivos e camisetas que trazem o alerta para o grave problema que atinge a vida não só das mulheres, mas das famílias e coletividade.
Otimizando o uso da internet, de forma criativa, os grupos estão produzindo sites com a finalidade de facilitar o reconhecimento de casos de abuso e o encaminhamento para os serviços de atendimento. Interessante que ao realizarem pesquisas para a concretização desses materiais, os estudantes ficam chocados com o alto índice notificações de agressões e o quanto isso afeta a saúde da população. Ao mesmo tempo, sabe-se que muitas mulheres não denunciam as brutalidades, pois além de naturalizadas, há a crença de que serão criticadas.
O observatório estadual de segurança pública, através do relatório de monitoramento de indicadores de violência contra mulheres no Rio Grande do Sul, aponta que de janeiro a agosto de 2020 já foram notificados 21.894 ameaças, 12.247 lesões corporais, 1.077 estupros, 214 tentativas de feminicídio e 57 feminicídios consumados (dados SIP/Procergs, atualizados em 6/09/2020). A mesma fonte indica que, em 2019, foram notificadas 359 tentativas de feminicídio e 97 mulheres morreram por esse motivo.
Precisamos falar sobre as consequências do machismo. Superar a violência é um desafio que exige esforço de todos e todas.